A ansiedade neurótica

Lannoy Dorin.

    A marca principal da neurose é a ansiedade. Por isso as antigamente chamadas reações neuróticas são hoje designadas como transtornos de ansiedade. Mas, que é ansiedade?
    Ansiedade é a inquietação acompanhada de um medo vago, um medo subjetivo, por que, de momento, não há nada na realidade que o justifique. Poderíamos dizer, com S. Freud, que é uma reação antecipatória do perigo, que é um sentimento de aproximação do fracasso, do desastre. A pessoa se sente aflita, inquieta e não sabe por quê. Pelo menos quando não há uma causa real, atual, algo que talvez seja possível (perder o emprego, o exame médico indicar câncer etc.). Então ela é chamada de ansiedade neurótica.
    Ansiedade gera tensão e é gerada por ela. É um círculo vicioso, e o resultado é o estresse (stress), o desgaste do organismo em virtude da estimulação interna nociva.
    O alívio para os estados de ansiedade consiste inicialmente na remoção das dificuldades que interferem na satisfação dos desejos, o que nem sempre é fácil de se conseguir, pois o neurótico não sabe que para ser livre é preciso aprender a libertar-se dos desejos. Antes, porém, ele tem de precisar o que deseja da vida e em seguida estabelecer um projeto de existência significativa. Isto decorre da análise psicológica (psicoterapia).
    O segundo passo consiste em, simultaneamente à análise, cuidar do corpo. Exercícios físicos são fundamentais. Quais? Os da hatha-ioga, por exemplo.
    O terceiro passo é o do controle de alimentação. Escolha os alimentos equilibradores do corpo e da mente, os sattva, frutas, verduras, leguminosas e grãos.
    A ansiedade não combatida se converte em sintomas corporais, como anestesias em braços e mãos, dores musculares, como nas costas, mau funcionamento do aparelho digestivo, alteração no batimento cardíaco e outros, que levam à perda do apetite, ou o seu oposto, a insônia e a inibição do impulso sexual. As reações que afetam o equipamento sensorial e muscular são denominadas conversivas, porque a ansiedade ( o psicológico) se converte em reações corporais, orgânicas (o somático).
    Quando a ansiedade é mais forte ainda e mais duradoura, pode ocorrer o que se chama reação dissociativa, como nos casos de fuga ou de dupla ou múltipla personalidade. A parte que se dissocia é aquela que permitia o aparecimento da ansiedade. Então, é uma fuga de problemas, de frustrações e conflitos, alguns quase insolúveis, como dizer à mulher que teve um filho com outra. A saída pode ser a ruptura da personalidade, ficando apagados os traços (idéias, sentimentos e desejos) ligados à parte que convivia com o problema quase insolúvel.
    A dissociação geralmente é temporária. Ao recobrar a memória, a pessoa não se lembra que “saiu do mundo”, fugindo, ou tentando fugir do pensamento e do sentimento  geradores de ansiedade. Seria como uma máquina que se desliga por excesso de carga elétrica. Após algum tempo, ela volta a funcionar. Mas existe também a possibilidade de que, quando ela voltar a funcionar, ser outra máquina. Aí, meu (ou minha) caro(a) leitor(a), o neurótico mudou de status e de planeta: construiu uma casa em “outro mundo” e foi viver nela, já na condição de psicótico.

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