A BOA ESCOLA E O BOM PROFESSOR


A BOA ESCOLA E O BOM PROFESSOR



    Toda sociedade possui um sistema de educação, simples ou complexo, elementar ou avançado. Para que os homens continuem produzindo os bens de que necessitam, torna-se indispensável a contínua preparação de profissionais para todos os tipos de trabalho. Nenhuma sociedade poderia substituir, caso fosse privada dos instrumentos da cultura que aprendemos a manejar na escola e que são: linguagem oral simbólica (expressão de nossas idéias e sentimentos), escrita (gravação de nossas idéias e sentimentos), leitura (interpretação do que foi gravado), cálculo (medida do que é ou acontece) e manipulação (trabalho com as mãos).
Mas é um engano pensarmos que a educação se restrinja apenas à transmissão de conhecimentos e à formação de profissionais. Ela está voltada, em primeiro lugar, à formação da personalidade dos seres humanos que constituirão famílias. É preciso que eles aprendam como poderão constituí-las e como poderão educar seus filhos durante os anos em que estes permanecerão sob sua responsabilidade.
Formar o homem é a principal meta dos educadores; instruir estudantes e formar profissionais são os objetivos dos professores. Assim são, muitas vezes, teoricamente definidos os papéis de educadores e professores. Mas na prática um bom professor tem por escopo executar as duas funções, a de colaborar na formação dos traços de personalidade dos educandos (principalmente os de caráter) e levá-los a adquirir certos conhecimentos e habilidades para os diferentes tipos de trabalho em que poderão dispensar suas energias quando adultos. desde que os profissionais da educação estejam cônscios desses papéis que deverão desempenhar, os termos educador e professor poderão ser empregados expressando a mesma idéia geral. No momento em que o professor deixar de refletir sobre o significado do seu trabalho na formação da personalidade da criança ou do adolescente e se limitar apenas a transmitir conhecimentos, a informar, ele será um instrutor e não um educador. Embora muitas vezes se admita que a função do professor seja a de somente ensinar, os pais e as autoridades responsáveis pela educação empregam a palavra como sinônimo de educador.
Outro engano muito freqüente é o de identificar a educação como uma prática visando apenas a transmissão dos conhecimentos acumulados. Vista neste sentido, ela seria apenas um meio de se manter idéias, técnicas, valores e padrões de conduta social do passado. Se formos educar as novas gerações segundo todas as normas de nossa antiga educação, estaremos negando a sua principal função, que é a de preparar o homem para um dado momento histórico e provocar mudanças em vista de uma existência cada vez melhor da sociedade. Assim considerada, a educação consiste num processo de permanente transmissão e renovação de idéias, valores, técnicas, instrumentos, atitudes e padrões de conduta social (cultura).


Objetivos da educação democrática:
  • Integrar o ser humano em sua comunidade.
  • Ensiná-lo a viver socialmente.
  • Levá-lo a conhecer e a manejar os instrumentos da cultura.
  • Fazer com que compreenda sua natureza biopsicológica.
  • Fazer com que entenda a natureza da cultura e dos fatores socioeconômicos do seu ambiente.
  • Desenvolver nele uma adequada maestria para usar as habilidades adquiridas.
  • Criar nele hábitos de civismo, responsabilidade e dedicação ao trabalho e aos estudos.
  • Prepará-lo para os estudos em escolas técnicas ou Universidades.
  • Promover o desenvolvimento de um entendimento e uma adequada avaliação do seu eu.

Como deve ser uma escola?
“Plena de vida, de um viver real, porque, sem isso, não poderá oferecer as condições completas da aprendizagem.
Um ambiente propício à atividade dos alunos, onde seus empreendimentos formem unidades típicas da aprendizagem; será preciso não esquecer que a atividade com finalidade é o padrão de vida digna, onde quer que deva ser vivida.
Ter professores que, de um lado, nutram simpatia pela infância e pela juventude, cônscios de que o desenvolvimento só se dá pela atividade progressiva do aluno”... “E que tenham em mente, por fim, que a experiência e a cultura da espécie representam um tesouro de valor incalculável e fonte de provisão, nunca acabado ou perfeito, mas sempre disponível pra utilização mais rica e perfeita”.

E os bons professores?
Para se avaliar as possibilidades profissionais de um professor, podemos considerar 3 grupos de fatores, a saber:
  • Capacidade na área de conteúdo (assuntos da disciplina):
Escolaridade geral, medida pelos certificados de conclusão de cursos.
Pontos obtidos em testes de conteúdo.
Habilidade na leitura.
Cultura geral básica.

  • Fatores da personalidade
Traços de personalidade.
Interesse no ensino e no trabalho escolar.
Atitudes de análise em relação aos problemas sociais.

  • Capacidade no emprego de técnicas de ensino
Habilidade geral em instrução.
Habilidade nas relações aluno-professor.
Conhecimento das práticas profissionais e técnicas.

Na avaliação feita pelos estudantes de qualquer nível, sempre aparecem estas características do bom professor:
  • Tornam o curso interessante.
  • Sabem a matéria de que trata o curso.
  • Manifestam muito entusiasmo.
  • Têm o material muito bem organizado.
  • Incentivam a participação dos alunos.
  • Apresentam muitas ilustrações práticas.
  • Têm genuíno senso de humor.
  • Têm personalidade amistosa.
  • Mostram interesse pelos alunos.
  • Têm voz agradável.
  • Vestem-se bem.
  • Têm atitude ponderada e prática.

O que uma escola espera de um bom professor?

No exercício do magistério
  • Que tenha conhecimento de teorias da aprendizagem, técnicas de ensino e idéias sobre experiências e propósitos comuns dos aprendizes.
  • Conhecimento do significado, do processo e dos tipos de transferência da aprendizagem.
  • Estudo das matérias que ensinará.
  • Capacidade para elaborar seu plano de ensino, aceitando a participação de alunos no planejamento, através de informações obtidas sobretudo com a aplicação de questionários.
  • Capacidade para organizar atividades extra-curriculares em vista da melhor formação da personalidade do aluno.
  • Habilidades que lhe permitam organizar testes de aferição da aprendizagem.
  • E, finalmente, habilidades que lhe permitam guiar, estimular e encorajar as atividades dos alunos, tornando-os clientes dos seus deveres e possibilidades.

Na sua vida particular:
  • Bons hábitos de vida.
  • Voz agradável.
  • Senso de humor (rir com os outros, não dos outros).
  • Prontidão.
  • Inteligência.
  • Honestidade.
  • Interesse por problemas sociais.
  • Capacidade para avaliar as diferenças individuais.
  • Habilidade para avaliar os altos ideais, o viver digno e o pensar correto.
  • Amor ao belo.
  • Serenidade.
  • Reverencia a tudo que tenha valor cultural.

Quais seriam os motivos que levam as pessoas ao magistério?

Uma pessoa pode escolher a carreira de professor porque nenhuma outra profissão despertou sua vontade, nenhuma a atraiu. Mas muitos motivos podem justificar uma escolha desse tipo.

Imitação

Durante os anos de vida na escola a gente aprende a admirar um educador, a ver nele o bom amigo. Inconscientemente, passamos a pensar, sentir e agir como ele. Depois de algum tempo, estamos desejando seguir a mesma carreira profissional.
A imitação também pode ser do pai, quando este é um professor benquisto pelos alunos e pela comunidade.

Desejo de um melhor status econômico

O estudante que sempre lutou com dificuldade e jamais teve dinheiro em suas mãos, vê o magistério como um “porto seguro”.
A preferência pela carreira de professor, baseada no desejo de ganhar dinheiro, é responsável por sérios desajustamentos. O magistério não é uma profissão rendosa em qualquer parte do mundo.

Busca de prestígio social
Estudantes das classes economicamente baixas podem ver no magistério um meio de se projetarem, de serem reconhecidos socialmente, admirados e prestigiados. Uma vez formados e labutando nas escolas, poderão observar que o número de professores famosos é realmente pequeno.
Desejo de aprovação
Certas pessoas, que têm uma visão idealista do magistério, supõem que os alunos estão sempre prontos a manifestar sua gratidão aos mestres, mas poucos assim procedem, boa parte incentivados pelos pais. Os estudantes sabem que seus professores recebem salários para ensiná-los e geralmente não se sentem obrigados a agradecê-los. Os melhores alunos revelam admiração e respeito pelos bons professores depois que deixam a escola. E quase nunca expressam aos próprios mestres essas idéias e sentimentos.

O magistério como meio de canalizar impulsos maternais
Algumas pessoas, principalmente mulheres, podem escolher a profissão de professora como um meio de dar proteção às crianças. Obtêm prazer sendo bondosas para com as crianças e adolescentes. Se posteriormente vêm a se casar e a ter filhos, podem assumir atitudes opostas em relação aos alunos.

Apego a uma disciplina
A pessoa escolhe a profissão porque gosta de determinada disciplina e durante os anos de estudo só se dedicou realmente a ela.

O medo de tentar outros cursos
A escolha é feita porque o estudante percebe que é mais fácil ser professor que seguir outra carreira que exigirá mais estudo.

Outros motivos importantes
Finalmente, a pessoa pode escolher a profissão de professor por não ter tido oportunidade de fazer outro curso, porque gosta de conviver com crianças e adolescentes, porque sente-se feliz em estudar e transmitir seus conhecimentos, porque gosta de ajudar e ser auxiliada na solução de problemas sociais ou porque se sente uma pessoa útil ao seu país.
Ninguém nasce professor, ou melhor, com traços que responderão totalmente pela personalidade de mestre. Isto é evidente. Portanto, ser professor, bom ou mau, é questão de formação. Por princípio, admitimos que cursos bons poderão dar ao país bons mestres; cursos ruins, porcentagem menor de profissionais realmente habilitados para educarem as crianças e os jovens.


* Lannoy Dorin é prof. de Psicologia Geral e Psicologia da Personalidade no curso de Psicologia da Faculdade Politécnica de Jundiaí (SP).

1 comentário

Anônimo em 9 de dezembro de 2011 às 14:13

Querido Professor Lannoy, que saudades do senhor!!
Como sempre escrevendo com clareza e objetividade!!
Nunca me esqueci do seu jeito de ensinar. Estou no magistério há 25 anos e não me arrependi. Fui e sou sua fã. Alegra-me revê-lo tão bem! Tenho certeza que outras ex-alunas do Berreta também entrarão em contato! Felicidades e sucesso sempre! Mil beijos, mestre inesquecível!
Lígia Fernanda - turma do magistério do Berreta de 1986.