A BUSCA DO EQUILÍBRIO COMEÇA COM O COMEÇO DA VIDA


A BUSCA DO EQUILÍBRIO COMEÇA COM O COMEÇO DA VIDA


Tive um sonho no qual eu aparecia como sou, professor, tentando pôr na lousa uma síntese das idéias de Melaine Klein (1882 – 1960), famosa psicanalista judia nascida em Viena e falecida em Londres.
Havia na classe da Poli (Politécnica de Jundiaí) 10% do total de alunos, e eu me esforçava para pôr no quadro-negro um resuminho das idéias de Melaine. Nesse momento, ela, como num passe de mágica, desce do teto, deixando todos nós boquiabertos. Olha-me bem e diz num português sem sotaque alemão:
“Venho a você e aos seus alunos para explicar a principal diferença entre a minha teoria e a de Freud. A minha desloca o foco de atenção para as relações objetais. O bebê busca o alimento para se manter vivo, e o tipo de relação que estabelece com o seio da mãe é o que determina seu prazer ou raiva. Estas imagens e emoções dos primeiros meses de vida existem de modo excludente no ato de mamar. Por isso dei à posição inicial o nome de esquizoparanóide (esquizo = dividido; paranóide = a ansiedade produzida pelo medo de ataque, no caso, o seio materno; ou seja, um estado parecido com a antigamente chamada paranóia, o de transtornos delirantes de ciúme, grandeza e perseguição).
“Pelo exposto, você e seus alunos percebe que não sou uma teórica obcecada pela sexualidade no conceito freudiano. As emoções dos 4 primeiros meses são do tipo 8 ou 80. Depois dos 4, há uma fase a que chamei de depressiva e que vai até 8 meses. Chamei-a de posição depressiva, que explico do seguinte modo: a criança muda sua posição em relação ao objeto (seio), porque tem a mãe total e percebe que dela depende. Então a agressividade da fase anterior é superada por um sentimento de culpa e gratidão que estarão presentes pela vida afora”.
“Se o indivíduo ficar preso à posição esquizoparanóide, terá transtornos esquizofrênicos; e se não conseguir ver a mãe como um objeto total bom e mau simultâneamente, poderá caminhar para a depressão. Mas creio que na maioria dos casos há um certo equilíbrio na posição depressiva”.
“Como se vê, para mim o ego não é exatamente como o definiu Freud. Ele opera desde cedo e não a partir de uns dois anos. Procura manter o equilíbrio entre as pulsões que exigem satisfação e as possibilidades de tê-la com objetos do mundo exterior, principalmente as pessoas. Enfim, o ego é mais ativo do que na visão freudiana”.
“Assim, meus caros, fiz o que Jung disse: antes de ver a busca de prazer para viver, vi a vontade de viver da qual pode decorrer o prazer ou o ódio. Estaria eu errada?”.
Despediu-se e saiu por onde entrara: o teto. Voltou assim à dimensão que está além do que enxergam os olhos normais.
Acordei e logo fui procurar nas obras de Jung o texto em que ele diz que ao invés de primeiros falarmos em prazer devemos falar em fome. Mas, ao ler o parágrafo 771 do seu livro Freud e a psicanálise*, esqueci o que procurava e li:
“No tocante à Psicologia, acho melhor renunciar à idéia de que estejamos hoje em condições de fazer afirmações ‘verdadeiras’ ou ‘corretas’ sobre a essência da psique. O melhor que conseguimos fazer são expressões verdadeiras”.
Como qualquer leitor de Kant, Carl Gustav Jung poderia dizer que a Psicologia não nos diz o que somos, mas nos oferece dados e instrumentos para que sejamos capazes de equilibrar nossa mente, nos ajustarmos à vida social, estabelecermos um projeto de vida e sermos felizes.
Conhecer nossos problemas e transtornos pela raiz é importante desde que o entendimento seja acompanhado de mudança em nossos habituais comportamentos.



* Cap. XVI da obra citada (A divergência entre Freud e Jung), texto publicado pela primeira vez em 1929.



1 comentário

Soraya fairbanks em 14 de dezembro de 2011 às 14:46

Se sou professora e adoro o que faço, devo a este "MESTRE" !!! Aprendi com ele que deixamos marcas profundas em nossos alunos... e que depende da postura que desempenhamos em sala, as marcas que imprimiremos ( positivas ou negativas) em nossos alunos... Se fazemos com amor e dedicação com certeza imprimiremos marcas positivas!!! Adorei encontrar vc "MESTRE"!!!! Sua eterna aluna Soraya